Feliz, caminhei descalço, na suavidade com relva
Abracei a flor branca de chuva, rósea flamejante
Camisas molhadas, corpos de amor, transparente
No teu olhar quente, presente na luz da alvorada

Chuva de amar, sem rede, lá o meu coração bebe
Senti o aconchego, o abraço, na camisa molhada
Feliz, caminhei descalço, na suavidade com relva
Abracei a flor branca de chuva, rósea flamejante
Camisas molhadas, corpos de amor, transparente
No teu olhar quente, presente na luz da alvorada

Chuva de amar, sem rede, lá o meu coração bebe
Senti o aconchego, o abraço, na camisa molhada


E comi o afecto, beijei a tua mão alva de ternura
Eu vi o vento, dançar no vestido branco, tão leve

Colado ao corpo transparente, amostras de amor
Em movimento, sussurrando vidas sem tremura
Dançantes na relva de amor, não esfria, perdura
Palavras e dulçor, entre beijos de chuva, incolor
Amantes na vida, mãos dadas, tão envolvente
Os pés na relva fresca, desejos no vestido branco
Danças ao vento, sorrindo, na esquina do tempo

Fazendo amor, com Chuva de amor transparente...


E comi o afecto, beijei a tua mão alva de ternura
Eu vi o vento, dançar no vestido branco, tão leve

Colado ao corpo transparente, amostras de amor
Em movimento, sussurrando vidas sem tremura
Dançantes na relva de amor, não esfria, perdura
Palavras e dulçor, entre beijos de chuva, incolor
Amantes na vida, mãos dadas, tão envolvente
Os pés na relva fresca, desejos no vestido branco
Danças ao vento, sorrindo, na esquina do tempo
Fazendo amor, com Chuva de amor transparente...

A Melhor Maneira de Viajar é Sentir

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. 
Sentir tudo de todas as maneiras. 
Sentir tudo excessivamente, 
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas 
E toda a realidade é um excesso, uma violência, 
Uma alucinação extraordinariamente nítida 
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas, 
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas 
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos. 

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas, 
Quanto mais personalidade eu tiver, 
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver, 
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas, 
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento, 
Estiver, sentir, viver, for, 
Mais possuirei a existência total do universo, 
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora. 
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for, 
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo, 
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco. 

Cada alma é uma escada para Deus, 
Cada alma é um corredor-Universo para Deus, 
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo 
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno. 

Sursum corda! Erguei as almas! Toda a Matéria é Espírito, 

Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos 
Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho 
E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo! 
Sursum corda! Na noite acordo, o silêncio é grande, 
As coisas, de braços cruzados sobre o peito, reparam 

Com uma tristeza nobre para os meus olhos abertos 
Que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra. 
Sursum corda! Acordo na noite e sinto-me diverso. 
Todo o Mundo com a sua forma visível do costume 
Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso, 

Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça. 

Sursum corda! ó Terra, jardim suspenso, berço 
Que embala a Alma dispersa da humanidade sucessiva! 
Mãe verde e florida todos os anos recente, 
Todos os anos vernal, estival, outonal, hiemal, 
Todos os anos celebrando às mancheias as festas de Adônis 
Num rito anterior a todas as significações, 
Num grande culto em tumulto pelas montanhas e os vales! 
Grande coração pulsando no peito nu dos vulcões, 
Grande voz acordando em cataratas e mares, 
Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança, 
Em cio de vegetação e florescência rompendo 
Teu próprio corpo de terra e rochas, teu corpo submisso 
A tua própria vontade transtornadora e eterna! 
Mãe carinhosa e unânime dos ventos, dos mares, dos prados, 
Vertiginosa mãe dos vendavais e ciclones, 
Mãe caprichosa que faz vegetar e secar, 
Que perturba as próprias estações e confunde 
Num beijo imaterial os sóis e as chuvas e os ventos! 

Sursum corda! Reparo para ti e todo eu sou um hino! 
Tudo em mim como um satélite da tua dinâmica intima 
Volteia serpenteando, ficando como um anel 
Nevoento, de sensações reminescidas e vagas, 
Em torno ao teu vulto interno, túrgido e fervoroso. 
Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente 
Meu coração a ti aberto! 
Como uma espada traspassando meu ser erguido e extático, 
Intersecciona com meu sangue, com a minha pele e os meus nervos, 
Teu movimento contínuo, contíguo a ti própria sempre, 

Sou um monte confuso de forças cheias de infinito 
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço, 
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une 
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim 
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo, 
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira 
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas, 
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos. 

Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo. 
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão, 
No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo 
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos 
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais. 

Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima, 
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo 
De chamas explosivas buscando Deus e queimando 
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica, 
A minha inteligência limitadora e gelada. 

Sou uma grande máquina movida por grandes correias 
De que só vejo a parte que pega nos meus tambores, 
O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis, 
E nunca parece chegar ao tambor donde parte... 

Meu corpo é um centA Melhor Maneira de Viajar E SentirAfinal, A Melhor Maneira de Viajar E Sentir. 
Sentir Tudo de TODAS como Maneiras. 
Sentir Tudo excessivamente, 
O Porque TODAS como encontra em Coisas de São Paulo, in Verdade, excessivas 
E Toda a Realidade E hum Excesso, UMA Violência, 
Uma alucinação extraordinariamente nitida 
Que Vivemos Todos los Comum com a Fúria das Almas, 
O centro Pará Onde tendem como Estranhas Forças Centrífugas 
Que São como psiques Humanas não Seu a Acordo de Sentidos. 

Quanto Mais Eu Sinta, Quanto Mais Eu Sinta Como VARIAS PESSOAS, 
Quanto Mais Personalidade eu figado, 
Quanto Mais intensamente, estridentemente como figado, 
Quanto Mais simultaneamente Sentir com TODAS ELAS, 
Quanto Mais unificadamente diverso, dispersadamente atento, 
Estiver, Sentir, viver, para, 
Mais possuirei um total existencia fazer Universo, 
Mais Completo Serei Pelo Espaço INTEIRO fóruns. 
Mais Analogo Serei um Deus, SEJA QUEM ELE para, 
O Porque, SEJA QUEM ELE para, com Certeza Que É Tudo, 
E fóruns d'He HÁ Só Ele, e Tudo Para He E pouco. 

Joe Cada alma E UMA escada parágrafo Deus, 
Joe Cada alma E hum corredor-Universo Pará Deus, 
Joe Cada alma E hum rio correndo POR Margens de Externo 
Para Deus e Deus lhes com hum Sussurro soturno. 

Sursum corda! Erguei como almas! Toda a Matéria E Espírito, 

O Porque Matéria e Espírito São apenas nomos confusos 
Dados à grande sombra Que ensopa o Exterior em Sonho 
E FUNDE los Noite e Mistério o Universo Excessivo! 
Sursum corda! Na Noite a Acordo, O Silêncio E grande, 
Como encontra em Coisas, de Braços cruzados SOBRE o Peito, reparam 

Com UMA tristeza nobre parágrafo Os Meus Olhos Abertos 
Que como VE Como Vagos Vultos Noturnos na Noite negra. 
Sursum corda! A Acordo na Noite e SINTO-me diverso. 
Todo o Mundo com a SUA forma visível fazer traje 
Jaz no Fundo dum Poço e FAZ UM Ruído Confuso, 

Escuto-o, e não Meu Coracao hum grande pasmo soluça. 

Sursum corda! ó Terra, Jardim Suspenso, Berço 
Que embala a Alma dispersa da Humanidade sucessiva! 
Mãe verde e florida de Todos os Anos récente, 
Todos OS ANOS vernal, estival, outonal, hiemal, 
De Todos os Anos Celebrando ÀS mancheias como festas de Adônis 
Num rito anterior a TODAS como significações, 
Num grande Culto los tumulto pelas Montanhas e vales OS! 
Grande Coração pulsando no Peito nu DOS Vulcoes, 
Grande Voz acordando los Cataratas e éguas, 
Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança, 
Em cio de Vegetação e florescência rompendo 
Teu Proprio Corpo de terra e Rochas, teu Corpo Submisso 
A tua Própria Vontade transtornadora e eterna! 
Mãe carinhosa e unânime dos ventos, Dos mares, dos prados, 
Vertiginosa Mãe dos Vendavais e ciclones, 
Mãe caprichosa Que FAZ vegetar e Secar, 
Que perturba como Próprias Estações e confunde 
Num beijo imaterial OS sóis e como Chuvas e ventos OS! 

Sursum corda! Reparo para ti e eu sou TODO UM hino! 
Tudo em Mim Como hum Satélite da tua Dinâmica íntima 
Volteia serpenteando, Ficando Como hum Anel 
Nevoento, de Sensações reminescidas e vagas, 
Em Torno AO TEU vulto interno, túrgido e fervoroso. 
Ocupa de Toda a tua Força e de TODO o teu Poder Quente 
Meu Coração Aberto a ti! 
Como UMA espada traspassando Meu Ser erguido e extático, 
Intersecciona com Meu Sangue, COM A Minha Pele Nervos e Os Meus, 
Teu Movimento Contínuo, Contiguo a ti Própria semper, 

Sou hum monte Confuso de Forças Cheias de infinito 
Tendendo los TODAS como direções Lados OS para Todos do Espaço, 
A Vida, ESSA Coisa Enorme, E Que Tudo É Tudo PRENDE une 
E FAZ COM Que TODAS como Forças that raivam Dentro de Mim 
Localidade: Não passem de MIM, NEM quebrem Meu Ser, Nao partam Meu Corpo, 
Localidade: Não me arremessem, Como UMA bomba de Espírito Que estoira 
Em Sangue e carne e alma espiritualizados parágrafo Entre como Estrelas, 
Para Além DOS Sóis de Sistemas e To Us Link DOS astros Remotos. 

Tudo O Que HÁ Dentro de Mim tende a voltar a Ser Tudo. 
Tudo O Que HÁ Dentro de Mim tende a despejar-me no Chão, 
No vasto Chão supremo Que Localidade: Não ESTA los Cima NEM embaixo 
MAS soluçar como ESTRELAS e Os Sóis, soluço como Almas e Corpos OS 
Por UMA obliqua posse dos NOSSOS Sentidos Intelectuais. 

Sou uma Chama ascendendo, mas Ascendo parágrafo Baixo e Cima Pará, 
Ascendo Pará de Todos os Lados AO MESMO tempo, sou hum globo 
De chamas explosivas buscando Deus e queimando 
A crosta dos MEUS Sentidos, o muro da Minha lógica, 
A Minha Inteligência limitadora e gelada. 

Sou uma grande Máquina movida POR Grandes Correias 
De Que Só Vejo A Parte Que Nos pega MEUS tambores, 
O Resto Pará Vai de Além DOS astros, Passa Para Além dos sóis, 
E Nunca parece chegar AO tambor donde Parte ... 

Meu Corpo e hum centro dum volante estupendo e infinito 
Em marcha de sempre vertiginosamente los Torno de si, 
Cruzando-se TODAS los como direções COM To Us Link volantes, 
Que se entrepenetram e misturam, o Porque Isto É Localidade: Não E no Espaço 
Mas nao sei Onde Espacial de UMA outra Maneira-Deus. 

Dentro de Mim estao Presos e atados AO chao 
De Todos os Movimentos Que compõem o Universo, 
A Fúria minuciosa e dos Átomos, 
A Fúria de TODAS como chamas, a Raiva de Todos os ventos, 
A espuma furiosa de Todos os rios, Que se precipitam, 

A chuva com Pedras atiradas de catapultas 
De Enormes exércitos de Anões Escondidos no Céu. 

Sou hum Formidável dinamismo Obrigado AO Equilíbrio 
De Estar Dentro Do Meu Corpo, de Nao transbordar da minh'alma. 
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, SACODE, 
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode, 
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge, 
SE COM TODO O Meu Corpo TODO o Universo ea Vida, 
Arde com TODO O Meu Ser de Todos os lumes e Luzes, 
Risca com Toda a Minha Alma de Todos os relampagos e fogos, 
Sobrevive-me lhes Minha Vida los TODAS como direções! 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 
Heterónimo de Fernando Pessoaro dum volante estupendo e infinito 
Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si, 
Cruzando-se em todas as direções com outros volantes, 
Que se entrepenetram e misturam, porque isto não é no espaço 
Mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus. 

Dentro de mim estão presos e atados ao chao 
Todos os movimentos que compõem o universo, 
A fúria minuciosa e dos átomos, 
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos, 
A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam, 

A chuva com pedras atiradas de catapultas 
DA Melhor Maneira de Viajar é Sentire enormes exércitos de anões escondidos no céu. 

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio 
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma. 
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode, 
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode, 
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge, 
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida, 
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes, 
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos, 
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções! 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

'Um Sopro de Vida'

Cadê Eu?Cadê eu? perguntava-me. E quem respondia era uma estranha que me dizia fria e categoricamente: tu és tu mesma. Aos poucos, à medida que deixei de me procurar fiquei distraída e sem intenção alguma. Eu sou hábil em formar teoria. Eu, que empiricamente vivo. Eu dialogo comigo mesma: exponho e me pergunto sobre o que foi exposto, eu exponho e contesto, faço perguntas a uma audiência invisível e esta me anima com as respostas a prosseguir. Quando eu me olho de fora para dentro eu sou uma casca de árvore e não a árvore. Eu não sentia prazer. Depois que eu recuperei meu contato comigo é que me fecundei e o resultado foi o nascimento alvoroçado de um prazer todo diferente do que chamam prazer.

Clarice Lispector, in 'Um Sopro de Vida'